Você e sua empresa são a mesma pessoa? Claro que não, mas alguns donos de micro empresas confundem a administração da vida particular com a administração da própria empresa. Pedindo licença aos psicólogos, os donos de empresas que fazem essa confusão serão chamados carinhosamente de empresários “psicóticos”.

Provavelmente você acha que não possui esta síndrome. Tomara que esteja certo. Mas por segurança, leia a seguir os seus sintomas. Afinal, a “Psicose Empresarial” é tão ardilosa que não deixa sua vítima perceber que está doente.

A vida particular do dono do estabelecimento possui necessidades e obrigações próprias, que são muito distintas das empresas. São de fato, duas pessoas completamente diferentes. No entanto, o empresário se aprofunda tanto no cotidiano da firma, que é compreensível misturar algumas coisas.

Um dos sintomas mais danosos da “Psicose Empresarial” leva a vítima a misturar o dinheiro particular com o da empresa. Por exemplo, em épocas de boas vendas e muitos clientes, é comum o empresário achar que tem maior liberdade para engordar o pró-labore, retirando mais dinheiro do caixa do que em um mês de movimento normal. O oposto também ocorre. Quando as vendas caem, a vítima tira da carteira o dinheirinho que vai sustentar a empresa por mais um mês. Outros exemplos são trocar cheques recebidos pela firma com dinheiro particular, pagar fornecedores do próprio bolso, usar ativos da firma (automóveis, mobiliário eoutros), e a lista cresce…

Eu sei que estes hábitos são corriqueiros entre as pequenas empresas, mas podem ser muito prejudiciais. Alguns problemas podem estar acontecendo com a firma sem o empresário perceber.

O perigo mais visível ao não separar o dinheiro particular com o da empresa é a perda do controle dos saldos das contas correntes. O empresário passa a não saber a qualquer momento, e com precisão, quanto a firma possui de dinheiro no banco ou até na caixa registradora. Isso acontece porque parte do dinheiro que a empresa recebe das vendas às vezes é desviado para o bolso do dono para uso particular. Ou então algumas despesas da empresa são pagas com dinheiro do dono para agilizar a operação. Normalmente o empresário vitimado pela “Psicose Empresarial” se compromete a compensar as retiradas de dinheiro do caixa da firma com depósitos posteriores ou vice-versa. Mas no final, raramente as compensações realmente funcionam.

A conseqüência em não se saber quanto a empresa e o empresário possuem de dinheiro em conta é ficar, de repente, sem recursos para pagar alguma despesa. Este é um dos primeiros passos para a falência.

Outro perigo para quem mistura os recursos financeiros é não saber com certeza quais produtos ou serviços vendidos trazem maiores retornos. Sua empresa pode estar vendendo algum produto que renda menos do que deveria (talvez o produto seja até deficitário). É possível que toda a empresa esteja fazendo você perder dinheiro. Apesar de na maioria dos meses haver lucro, em outros a empresa pode estar gastando mais do que recebendo. Ao longo dos anos é difícil perceber se a empresa está gerando a rentabilidade que deveria gerar.

Se conseguisse medir com precisão a rentabilidade da empresa, pode se surpreender ao descobrir que se a vendesse para a concorrência e aplicasse o dinheiro no banco, poderia gerar um retorno maior do que antes. Espero que não seja o seu caso.

Quem mistura dinheiro também tem dificuldade para planejar adequadamente o futuro das duas pessoas. O empresário vitimado pela “Psicose” tende a raciocinar apenas no curto prazo, preocupando-se somente com os problemas que acontecem no dia-a-dia como o salário dos empregados, pagamento aos fornecedores e o estoque para a semana. No máximo, ele pensa em uma reforma na loja, a ser feita só daí a alguns meses, ou na contratação de um ajudante. Resultado, a empresa e seu dono obtêm crescimento econômico muito menor do que poderiam ter se planejassem o futuro.

O sucesso no crescimento de um negócio depende muito do planejamento que o empresário fizer para a firma. Para crescer (aumentar o faturamento e o número de clientes), é preciso fazer investimentos. No entanto, os investimentos devem seguir um plano que indique quando iniciá-los, quanto será gasto, quando se deve esperar o retorno e quais os objetivos para cada um. Também deve haver um cronograma. Deve-se saber qual investimento vem primeiro, e o próximo, e assim por diante. Se você não souber ao certo quanto é o dinheiro da firma e quanto é o particular, terá dificuldade em planejar os investimentos no longo prazo.

Infelizmente a “Psicose Empresarial” ataca um número muito grande de empresários, e o pior é que eles nem sabem. Se você reconheceu algum dos sintomas descritos, sinta-se feliz. Este é o primeiro passo para a cura.

O tratamento consiste em fazer dois controles financeiros, um para o dinheiro movimentado pela empresa, e outro para as necessidades particulares. No início do mês, programe os gastos que a empresa deverá fazer a cada dia e vá separando os valores de acordo com as vendas. O mesmo vale para suas contas pessoais. Quanto ao pró-labore, o melhor a fazer é estabelecer uma remuneração fixa a ser retirada em um dia específico do mês. É necessário ter disciplina para não cair na tentação de fazer retiradas furtivas.

Se o tempo que você dedica à empresa variar de um mês para outro, pode tornar o pró-labore também variável. Neste caso, crie um critério para tornar proporcional a remuneração recebida de acordo com o tempo de trabalho dispendido na empresa, e siga rigorosamente as regras que criou. O importante é perder o hábito de tomar dinheiro “emprestado” do caixa ou ser socorrido pela empresa quando suas contas pessoais não fecham. Seu controle pessoal, portanto, também deve ser rigoroso.

Acompanhe com atenção o saldo da conta corrente da empresa para assegurar-se de que os depósitos estão correspondendo às vendas e saber ao que se refere cada desembolso no extrato da conta.

Planeje os investimentos separando o dinheiro para cada um deles. Vamos ao exemplo de abrir outra loja e de contratar um instrutor para treinar seus empregados. Primeiro decida quando quer abrir a nova loja e quando gostaria de iniciar o treinamento, assim como o custo de cada um. Guarde mensalmente uma parcela de dinheiro para cada investimento para que quando chegar o momento, você possa utilizá-lo. Se precisar de mais dinheiro para fazer o investimento, pode usar recursos próprios. O mesmo vale para aumento de capital de giro. Mas, uma vez dentro da empresa, o dinheiro deve ser administrado como sendo dela.

Se seguir essas dicas simples, você sentirá que deu os primeiros passos para a profissionalização de sua empresa, e mais, terá contribuído para reduzirmos a incidência deste mal que assola os empresários, a “Psicose Empresarial”.

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