Os depoimentos amplamente veiculados sobre corrupção em grandes empreiteiras e a relação promíscua entre agentes públicos e privados dirigem o foco da atenção ao volume de recursos que poderiam atender a necessidades da população. Um outro lado do enredo também é muito importante como tema de reflexão para gestores e empresários, o resultado que a empresa aufere nesse tipo de comportamento.

À primeira vista tende-se a perceber um imenso ganho por parte das empresas que sacrificam pequena parte de sua receita para garantir um ganho muito maior ao vencer uma licitação forjada. O fato é que historicamente nos mercados de economia livre como o do Brasil e de muitos outros países, a falha ética contrapõe os ganhos ilegítimos a uma imensa, mas difusa, perda de valor que raramente resulta em valores positivos para as empresas.

Pode-se pensar que as perdas são impostas apenas se os atos ilícitos forem provados e a empresa sofrer grave punição financeira por parte da justiça, mas não é só esse tipo de dano que a falta de ética promove. A perda mais significativa é resultante da infiltração dos atos imorais perpetrados pelos altos dirigentes em praticamente toda a estrutura de comando e naturezas de relacionamento que uma empresa hospeda.

Para empresas de qualquer porte, se a alta administração é contumaz em agir imoralmente mesmo que para apenas um tipo de relacionamento ou situação, muito provavelmente ela contaminará as práticas de gestão da maior parte da estrutura abaixo dela. Isso não significa que todos os demais colaboradores percam sua probidade, evidentemente, mas o surgimento de um ponto de fragilidade na barreira ética leva a permitir o vislumbre de soluções antes fora do campo de visão por serem indevidas. Já que o erro foi cometido para uma ocasião, por que não cometê-lo novamente para outras dificuldades as quais não se percebam outras saídas?

As soluções mais fáceis passam a ganhar força para diversos tipos de situações dentro da empresa e no relacionamento com outras entidades. A política de RH tende a se fragilizar e a abrir espaço para condutas lesivas ao próprio pessoal. Alguns colaboradores podem se sentir prejudicados e diminuir sua atenção e dedicação às atividades regulares. As pequenas mentiras e omissões tão prejudiciais em um processo produtivo podem se tornar mais frequentes. As relações institucionais com fornecedores, clientes e demais parceiros podem ser maculadas com artificialismos que alterem o equilíbrio de ganha-ganha.

Ora, se a empresa suposta ou notoriamente é tolerante com atos imorais, qualquer relação que outra entidade mantiver com ela o fará com os mínimos resguardos para não ser prejudicada. Assim a empresa acumula pesados ônus depositados por muitos aqueles que de alguma forma se relacionam com a empresa, desde parte dos próprios funcionários até outras organizações externas que circundam seu ambiente de negócio.

A perda de oportunidade não é contabilizada formalmente no lado negativo da equação. Se fosse possível acuradamente somar os ganhos de todos projetos legítimos que deixaram de ser realizados, as precauções onerosas tomadas por parceiros, as perdas de eficiência interna, com tantos outros males causados pela falta de ética, dificilmente o resultado financeiro é positivo, por maior que tenha sido a vantagem auferida.

Se à conta ainda forem acrescentadas as multas, custas e indenizações judiciais, a empresa certamente corre um grande risco de não sobreviver.

Marcos Sarmento Melo, Mestre

Valorum Gestão Empresarial

Comentários