Em princípio sim, mas no Brasil, nem tudo funciona pelo princípio. Antes de explicar o que ocorre em nosso país, precisamos ampliar o entendimento do porquê uma empresa usaria recursos de terceiros. O uso de capital de terceiros aumenta a rentabilidade do capital próprio.

Em outras palavras, o uso de capital de terceiros aumenta a rentabilidade do capital do dono da empresa, tornando-o mais rico. Todos os livros de Administração Financeira explicam essa vantagem pelo benefício fiscal.

De fato, é uma realidade que o benefício fiscal existe, mas só para as empresas com regime de lucro real, e mesmo assim, esse não é o motivo principal.

Por que o Capital de Terceiros é bom?

A principal razão pela qual o uso de capital de terceiros eleva a rentabilidade do capital próprio é a Arbitragem de Taxas de Remuneração de Capitais.

O empresário toma recursos a determinado custo e o aloca na operação da empresa que possui uma rentabilidade superior a essa taxa. Por exemplo, suponhamos que a empresa tome R$ 1.000 à taxa de 1% a.m.. Os recursos são investidos na empresa cuja rentabilidade é de 1,5% a.m.. O valor investido converte-se em R$ 1.015 em um mês, a empresa devolve R$ 1.010 ao credor e fica com os R$ 5 que sobraram. Esse dinheiro é do dono da empresa.

Vamos criticar o parágrafo acima. A taxa de juros é determinada na operação de crédito, certo? Não há o que discutir quanto a isso.

O que falta discutir é: afinal, qual é a rentabilidade da empresa? Como se calcula ou se estabelece como sendo ela superior à taxa de mercado?

Em geral, se apregoa que a rentabilidade da empresa é determinada pelo Custo Médio Ponderado de Capital (WACC - em inglês). O WACC é calculado a partir das taxas de juros dos empréstimos que a empresa carrega, e pelo resultado do CAPM (Capital Asset Pricing Model), que é o custo percentual ao mês do capital próprio.

Como o custo médio dos empréstimos é dado contratualmente, por assim dizer, e basta se levantar suas posições, falta agora só calcular o custo do capital próprio pelo CAPM.

O CAPM é um bom modelo para explicar a quem está fora da empresa o motivo por se considerar que o custo do capital é esse ou aquele, mas não serve bem ao dono do capital por um motivo simples.

O dono do capital, sendo aquele que dirige a empresa, sabe incomparavelmente mais que qualquer outra pessoa quais as ameaças, oportunidades, deficiências e competências que a empresa está exposta.

Por mais que tente explicar ao mercado, aos funcionários, a credores, a quem quer que seja, qual a real situação da empresa e o que deve ser seu futuro, ele não consegue fazê-lo integralmente. Mesmo que quisesse.

Esse é o típico caso de assimetria de informação e que vale também para companhias com ações pulverizadas em bolsa de valores.

Pode-se sofisticar à vontade o CAPM com modelos elegantes, complexos e estatisticamente representativos, mas é o sujeito atrás do volante da empresa quem melhor sabe qual o risco ao qual o capital dos donos está submetido, e a quais oportunidades de crescimento também.

O CAPM é uma técnica valiosíssima de calcular o custo do capital próprio, mas serve apenas para o público em geral porque dá certo ar de objetividade a uma variável cujo significado é tão importante.

Na prática, para o gestor e para o dono de uma empresa de capital fechado, o que interessa é o que ele considera como sendo o mínimo de rentabilidade exigida para remunerar seu capital, considerando o risco e as oportunidades as quais está submetido. Ponto!

De forma ainda mais clara, a rentabilidade do capital próprio é determinada pelo dono do dinheiro (para empresas de capital fechado) ou pelo principal gestor da empresa.

Parece haver muita subjetividade nisso ...

Infelizmente é isso mesmo, a subjetividade reina nesse processo.

Como a empresa pagará de volta os recursos recebidos de seu dono pela taxa de rentabilidade do capital próprio definido por ele, do ponto de vista dela, empresa, essa taxa passa a ser igual ao custo do capital próprio.

Nesse caso, não importa a eficiência da empresa em gerar caixa pela sua atividade principal? A rentabilidade não deveria ser o quanto ela gera de resultado operacional em relação a seu valor de mercado?

Deveria ser, mas não é. A variável que altera para acomodar a equação “rentabilidade da empresa = resultado da operação / valor da empresa”, é, lamentavelmente, o Valor da Empresa.

O dono/gestor, no fundo, escolhe a rentabilidade do capital próprio. Como a variável “Resultado da operação” mensal não se altera por sua livre vontade, quem varia para acomodar a equação é o valor de mercado da empresa.

Voltando então à estrutura de capital que é o tema dessa conversa. Sendo a rentabilidade (ou custo) do capital próprio determinado pelo dono/gestor, essa taxa é colocada sempre superior à taxa de empréstimo no mercado.

Claro, afinal, se ele posicionasse a taxa mínima de atratividade para aplicar seu dinheiro abaixo da taxa de juros de mercado, ele venderia sua empresa para emprestar a outros.

Ainda que ironicamente tenha que reduzir o valor da empresa, que é seu próprio patrimônio, o dono do capital sempre estabelecerá a rentabilidade mínima para seu capital acima do que ele obteria em qualquer outra oportunidade de investimento, inclusive, emprestar dinheiro no mercado.

Está posto então que, o custo do capital próprio é maior do que o custo do capital de terceiros. Aí está o suporte pelo qual a Arbitragem das Taxas de Remuneração de Capitais se mantém altiva. Benefício fiscal? Sim, é um item interessante, mas não é tão forte quanto aquele primeiro.

Portanto, em princípio o uso de capitais de terceiros eleva a rentabilidade do capital próprio porque aumenta a capacidade da empresa ampliar sua operação, fazendo sobrar mais resultado líquido para o dono dela. Contudo, o princípio não funciona sempre no Brasil.

No Brasil, as coisas acontecem de maneira diferente

O Brasil tem uma alta taxa básica de juros. Somando-se a isso ao fato de haver um mercado de capitais ainda pouco amadurecido em comparação a economias mais avançadas, a um spread bancário dos maiores do mundo, e a outras causas, a taxa de juros praticada pelas financeiras é excessivamente elevada.

É tão elevada que nem o mais otimista dos empresários consegue encontrar uma oportunidade de investimento cuja rentabilidade a supere.

No Brasil, a empresa só tem um caminho para usar capitais de terceiros, se for uma linha de crédito com taxa subsidiada pelo governo, como as linhas do BNDES, dos fundos constitucionais de financiamento (FCO, FNO e FNE) e o PROGER. Talvez o uso de crédito de fornecedor ou a emissão de papéis de dívida possam compensar, mas é preciso estudar caso a caso.

É importante ressaltar, no entanto, que o uso de capital de terceiros é uma medida importante para a empresa. Claro, sem ultrapassar um limite razoável, ele aumenta a operação da empresa e seu valor de mercado.

O que acontece no Brasil é circunstancial e devido a desequilíbrios econômicos que se deve esperar, sejam um dia resolvidos, mas permanece o princípio de que o capital de terceiros é bom para a empresa. 

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